segunda-feira, novembro 30, 2009

Um pouco de Drummond...

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

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Será que existe um medo reacionário, que luta,
Ou apenas o nosso medo hipócrita que cala?
Ainda podemos não ter medo.
Ou então o medo se tornou tão companheiro, tão amigo,
Que perdeu sem tom agonizante,
aterrorizante,
Horripilante.
Talvez estejemos de mãos dadas com ele,
E com a indiferença.
E de repente não teremos, nem as flores amarelas.